LINK MADNESS for the dog days of Summer

The middle of summer brings with it a certain madness that can be hard to shake. The “dog days” of summer are as old as the ancient Greeks, at least according to Wikipedia. In the city, people lose…

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Certas surpresas

Certas Mulheres. 2016

Com o chegar de um trem, o filme de Kelly Reichardt nos desembarca em um quarto com um belíssimo par de pernas e nádegas.

Com o primeiro corte, as primeiras pistas sobre a relação destas pessoas: os olhos fixos e a boca semi aberta de Laura Dern imprimem ambiguidades em sua personagem: não sabemos se está triste, relaxada, ou simplesmente com a cabeça em outro lugar. Não sabemos se qualquer uma dessas respostas têm a ver com este homem de bela bunda (ebarba). Sabemos… que ele fez por merecer um sorriso e um carinho com o pé.

Através do curto diálogo, percebemos uma sinergia entre os dois: a mulher nem precisou especificar que pêssego se referia à cor de sua blusa. A resposta do homem não só diz que ele entendeu o adjetivo aplicado, como também entende de cor, sugerindo um outro nome para a tonalidade. Não somente o quão bem estes dois se entendem, o caráter monossilábico do diálogo dá o tom de rotina entre as personagens. Poderiam ser um casal, mas as paredes e cômoda vazias dão a dica de uma relação diferente.

A esta altura do filme, ainda estamos sem contexto. Sequer sabemos quais das duas personagens é a protagonista, ou se as duas o são. Quando descobrirmos que Laura, nossa advogada, é amante deste homem, ligaremos os pontos: o vazio do quarto, por ser um motel; a distância física e a conversa fiada, pela distância emocional que o sexo entre estas duas pessoas parece não conseguir preencher. O roteiro de Reichardt vai além do diálogo para contar uma história: texto e subtexto estão também na locação e na direção de arte, responsabilidade de Kat Uhlmansiek e Pamela Day.

A última imagem da cena simboliza perfeitamente o filme, sendo também a prova da maestria da diretora norte-americana: em um plano sequência estático, Reichardt é capaz de enquadrar o rosto de duas personagens frentes uma à outra. Maior na imagem, o homem se arrumando. Menor, a mulher no espelho, desarrumada. Mesmo com uma composição diferente, a imagem final da cena tem a mesma imagética da primeira: distância entre as personagens. Reichardt faz o homem ocupar mais espaço no plano para sentirmos a solidão desta mulher que é ouvida sem ser olhada, pequena como uma amante tende a ser na vida de alguém casado.

Arrumado, o homem se levanta, força um sorriso de lábios fechados. Nossa protagonista, suspira. Enfim, ele sai de quadro, restando o sorriso de Laura no espelho, que desaparece conformes o som dos passos diminui.

O interessante é que toda essa maravilhosa cena é mais a construção da realidade desta e de uma outra protagonista do que a jornada da advogada em si:

Laura advoga para um homem… Bom, pra este homem:

O diálogo desta cena é um exemplo de excelente roteiro. Nele, sabemos que Laura advoga para Fuller, mas não sabemos pelo quê. Afinal, as personagens já se conhecem. Não falariam do caso didaticamente, de A até Z. Isso não seria natural, e somente serviria para expor ao público de maneira preguiçosa a situação destes dois. Mas mesmo sem sabermos do que trata o caso, entendemos haver uma complicação nele:

A segunda opinião é marcada para sexta, Fuller se despede, Laura o observa indo embora, trocamos de cena: nela, as mesmas personagens da anterior: Laura e Fuller. Como estão com roupas diferentes, em um lugar diferente, entendemos uma passagem de tempo. Quando percebemos se tratar de uma reunião jurídica, sabemos que as personagens estão em plena sexta-feira, tomando a segunda opinião.

Não foi preciso uma tomada da cidade escurecendo, pessoas andando, Laura em casa, letreiro ou qualquer outra ação que indicasse uma passagem temporal. Bastou a elegância de uma linha de diálogo somada a um corte. Se Certas Mulheres respira em meio a tantas gélidas paisagens ao longo de sua duração, Reichardt, nesse momento, quer ir direto ao ponto: o homem vive enchendo o saco da mulher, mesmo ela já tendo explicado que não há solução para o caso. E dada a insistência do cliente, uma segunda opinião foi agendada.

Quando enfim nela, entendemos mais sobre a relação profissional destes dois: Fuller sofreu um acidente no trabalho e quer indenização por danos morais. Aqui, a exposição didática funciona bem, pois, diferentemente de Laura, é a primeira vez que esse advogado está ouvindo a história do cliente da protagonista. Portanto, a informação expositiva vem com naturalidade. Ao lado do advogado, ouviremos o que, aparentemente, parece válido. Porém…

Depois deste suspiro, o que você, que me assistiu até aqui, acha que um homem tão insistentemente chato desses faria?

Pois é.

Como todo excelente cinema, os detalhes fazem poesia. Reparem nesta cena: Laura desabafou com o advogado, correto? Por que o filme não permaneceu na saída dela ou não cortou logo após sua fala? Porque Reichardt quer rechear a história da protagonista através da expressão de seu colega: sua boca aberta, seu morder de lábios, seus olhos e cabeça baixa nos dizem que ele entende o porquê de Fuller ter duvidado da protagonista, mas ter aceito de primeira a palavra dele. Com o pesar de sua expressão, é muito provável que o advogado saiba que isso é uma constante na vida de Laura. Se não dela, de mulheres advogadas.

O colega de profissão não somente enriquece a narrativa de nossa protagonista, como também reflete o que nós, público, sentimos com a situação. Sentimento somente possível por, anteriormente, termos vivenciado o quão insistente esse homem foi.

Vale também reparar que uma das tantas informações da cena anterior era a de Fuller não conseguir ler. Reassistindo o filme, o público mais atento pode fazer o cálculo: um homem míope sofre um acidente. À priori, quer porque quer ganhar sua indenização. Quando ouve de um outro homem que não há uma chance sequer de sucesso, desiste facilmente. Então… ele sofreu o acidente por negligência da empresa quanto à segurança de seus funcionários, ou por não ter tomado as devidas precauções quanto à saúde de seus olhos?

Independentemente da resposta, a realidade é a mesma: desempregado, com a mulher não o querendo mais em casa, sem uma indenização digna.

Fuller seguirá com sua vida, e Laura poderá seguir com a dela.

Quando terminando de desabafar no telefone com o homem que abrira o filme ao seu lado, percebemos, Laura e nós, não ser bem assim.

Por algum motivo ainda desconhecido, Laura vai contra tudo que seu rosto acaba de nos mostrar e convida Fuller para um almoço. Por mais incoerente que esta ação possa parecer na teoria, o roteiro e a direção de Reichardt dão espaço e movimento suficientes para entendermos o porquê de Laura ter feito o que fez: a esta altura, sabemos o quão insistente Fuller é. Laura está cansada, o encosto já está no passageiro… é mais fácil aceitar. Aceitação da qual, é claro, a protagonista não demorará para se arrepender:

Essa cena é fantástica. Nos mostra que, independentemente do quão imbecil e machista esse homem seja, ainda é um trabalhador injuriado, estressado e desesperado com seu desemprego e a iminente separação de sua esposa. Nos mostra, também, que Laura não quer ter absolutamente nada a ver com isso. Dando a esta cena uma ambiguidade de tristeza e humor. Pendendo, claro, para o segundo.

Mas o choro não parece ter sido suficiente. Tampouco irritar sua advogada anterior, durante e posteriormente ao caso. Com uma ligação na madrugada, Laura descobre que Fuller mantém um refém no prédio onde os arquivos de seu caso estão arquivados. Armado, ele chama por sua advogada.

A protagonista recebe instruções, é protegida por um colete e enviada ao prédio. Chegando ao andar, busca os arquivos do (agora) criminoso e se torna refém de Fuller, ao lado do segurança conhecido por Big Man, cuja feição não parece nem um pouco nervosa com a situação.

O cúmulo do absurdo é chegar ao motivo de todo o sequestro: Fuller quer saber o que seus colegas disseram no testemunho. O que fará depois de saber? Um homem imprevisível, instável emocionalmente... um maluco.

Nesta cena, descobriremos, por fim, todos os detalhes restantes do caso: independente da visão de Fuller, o empregador realmente foi negligente quanto à segurança das estruturas e suportes para o trabalho; de acordo com uma testemunha, Fuller bebeu no dia do acidente; e independentemente de tudo isso, uma vez aceitada uma oferta de indenização, não há como reivindicar mais nada.

Com a prisão de Fuller, Certas Mulheres partirá para suas outras duas protagonistas. Próximo ao final do filme, voltaremos à Laura. Por incrível que pareça? Na penitenciária. Visitando quem?

Lembro o quão intrigado fiquei na primeira vez que assisti esse filme, ao lado de minha irmã Jéssica. Me intrigo até hoje: depois de tudo que essa mulher passou na mão deste homem, cá está ela não somente o visitando, mas trazendo um Milk-Shake. Não somente trazendo um Milk Shake: sorrindo e rindo de piadas. Mesmo que evidentemente constrangida.

Essa cena é… estupidamente linda!

Num texto deliciosamente cômico e irônico, descobriremos o paradeiro da ex-esposa de Fuller. Num texto evidentemente triste, a realidade da cadeia e do pertencer a ela. Não descobriremos, entretanto, o motivo pelo qual Laura senta-se à frente de quem não levou suas palavras à sério pelo simples fato de ser mulher. Para isso, cabe nossa imaginação.

Laura é exatamente o oposto de Fuller: mora sozinha, tem estabilidade financeira e não pareceu tão dependente emocionalmente de seu amante, uma vez em que mal ligou para o tom estranho dele ao telefone, segundos antes de Fuller entrar no carro da protagonista.

Talvez ela esteja aqui por ver sua solidão neste homem; por pena, mesmo tendo ele feito o que fez; ou simplesmente… por ética profissional.

Independentemente do porquê, ela está. E como Fuller mesmo diz,

Esta é uma, uma das três histórias presentes em 1 hora e 47 minutos de filme. Em aproximadamente 36 minutos, Kelly Reichardt consegue nos mostrar um universo:

uma mulher sexualmente ativa, mas aparentemente apática quanto ao parceiro;

uma advogada bem sucedida, cujo sucesso não lhe impede de perrengue, machismo e risco à vida;

um homem irritante, infantil, insistente e completamente instável emocionalmente;

um trabalhador injustiçado por um sistema privado explorador e um sistema penal permissivo;

uma trabalhadora que se vê no dilema de não achar justo o que aconteceu com seu cliente, mas não poder ajudá-lo, afinal, ele não somente duvida de suas habilidades, como põe sua vida em risco.

Mas talvez o mais complexo desta história é pensarmos que independentemente da nossa estabilidade emocional, sexual e afetiva, ainda podemos nos encontrar sozinhos. Na terceira história, isso não parece ser uma questão. Até surgir uma possível companhia.

Na segunda, companhia endossa a solidão. E na primeira… Kelly Reichardt parece nos mostrar que, além de nossas certezas, podemos encontrar compreensão e aceitação quando menos esperamos, em quem menos esperávamos.

Certas Mulheres, de Kelly Reichardt. 2016

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